O que sustentabilidade e educação infantil têm a ver? Tudo. Sustentabilidade fala do futuro. Educação infantil também. Sustentabilidade fala sobre sustentar, sobre criar uma sociedade que possa ser sustentada em si. Educação infantil ensina para que a criança possa se sustentar. Sustentabilidade fala sobre trabalhar com o material que temos, em viver o presente como ele se apresenta para construirmos um amanhã seguro. Educação infantil…. não.
Metodologias existem em (quase) todas as escolas. Sejam elas convencionais (me recuso a usar aqui a palavra tradicional, tradição é outra coisa…) ou construtivistas, não importa. O método existe para ser aplicado. Independente de como o presente se apresente, o método está ali, entra turma e sai turma. E as características individuais de cada grupo e cada criança? O mesmo método consegue dar conta disso?
Experimente exatamente a mesma brincadeira que um grupo de crianças amou com um outro grupo de crianças. Será que vai dar tão certo? Provavelmente não. Umas são mais artísticas, outras mais esportistas. Umas mais atentas, outras dispersas. Violentas, carinhosas, carentes. A maneira de prender atenção, de explicar, de brincar, tudo será diferente. Se você tentar aplicar exatamente o mesmo método do grupo anterior, vai haver frustração de ambas as partes. Agora, se você realmente estiver com o grupo que tem, vivendo no presente, trabalhando com as situações que se apresentam e reagindo sem reatividade e com intuição, a atividade será um sucesso, certamente.
Mas a coisa é bem diferente nas escolas…
Grade curricular. GRADE. As escolas hoje são construídas na mesma arquitetura de prisões. Luzes frias, paredes de concreto, salas atabalhoadas com mais alunos do que um professor pode dar atenção. Aprisionamento de pensamentos.
Educação por série. SÉRIE. Entra ano e sai ano, a educação é transmitida da mesma maneira. Me remete ao fordismo, á produção em série.
Turmas divididas por idades. E desde quando aprendemos a mesma coisa na mesma faixa etária? Há de se respeitar o tempo de aprendizado individual! E desde quando só aprendemos com os que têm a mesma idade que nós? Aprendemos com pessoas de todas as idades.
Testes e provas. TESTES e PROVAS. A falta de confiança no aprendizado do aluno é tanta que é necessário testar se ele aprendeu. Depois de testar, há de se provar. Falta de confiança no aluno ou na capacidade do professor de ensinar? O professor deveria conhecer seus alunos tão a fundo que as provas seriam desnecessárias. Ele saberia a quantas anda o aprendizado de cada um e qual a melhor maneira de otimizar o conhecimento. Mas para isso as turmas deveriam ser menores e os professores mais bem preparados.
Carga horária. CARGA. Mas carga não é pra burro carregar? Carga é algo pesado. E desde quando aprendizado precisa ser penoso e pesado?
50 minutos de aula. De onde vem isso? Em 1910, a Universidade de Chicago fez um estudo e constatou que as pessoas conseguiam prender a atenção em um determinado assunto na escola por 50 minutos. Por isso, as aulas e matérias passaram a ser dadas dentro deste intervalo de tempo. Porém, estudos recentes demonstram que o tempo que um jovem presta atenção em algo é de apenas 8 minutos.
Saber de cor. DE COR. De coração. Como no inglês, by heart. Estamos ensinando a saber de cor e não de coração. As crianças não são estimuladas a entender com o coração, nem sequer a entender. Recebem mecanicamente o conhecimento transmitido porque precisam provar que entenderam no fim do bimestre. Na hora de aplicar na “vida real” o que supostamente aprenderam, congelam, porque estão acostumadas à repetição e não ao pensamento livre. É a síndrome do pensamento único.
Resoluções únicas. Em grande parte das escolas, não existe respeito à escolha individual. Cada equação possui uma só maneira de ser resolvida, não importa se o aluno chegar à resposta correta por um outro caminho. Ele precisa utilizar o tipo de resolução apresentado no quadro. Qual o impacto disso nas escolhas da vida adulta? Como entender que a felicidade está no caminho e não na meta se o foco da vida escolar é na resposta certa?
E a prova de múltipla escolha? Múltipla escolha vírgula! Existe uma só escolha correta. Deveria ao menos haver uma possibilidade “justifique sua resposta”. Mas não, desde crianças somos levados a entender que só existe uma maneira de resolução de problemas. A cartesiana.
Nossa sociedade funciona cartesianamente, com conhecimento fechado, competitividade, relacionamentos verticais e produção em massa. Deu no que deu. Impossibilidade de se sustentar esse modelo insustentável. Contudo, a escola ainda funciona da mesma maneira. Pois já é mais do que hora de repensarmos isso. Hora de nos perguntarmos como construiremos uma sociedade sustentável se nossas crianças estão sendo educadas para a manutenção do modelo atual – provadamente insustentável. Onde está a escola que construirá uma sociedade holística, com conhecimento aberto, colaboração, relacionamentos horizontais e microeconomia?
Já existem inúmeros estudos que apontam para um modo de vida possível: negócios sociais, microeconomia, conectividade, pensamento sistêmico e holístico. Inúmeros pensadores falando sobre isso: Leonardo Boff, Muhammad Yunus, Fritjof Capra, Frei Betto, José Pacheco, Roberto Semler, Oscar Motomura… Ainda poucos espaços educacionais pensando nisso: Escola da Ponte (Portugal), Lumiar (SP), Moleque de Ideias (Niteroi, de onde veio a inspiração pra esse post, bem como as fotos), Green School (Bali), Casa Escola (Natal), espero que muitas outras que ainda não tive o prazer de conhecer…
Mesmo com tanta informação pipocando, o conhecimento do magistério não é atualizado. O professor precisa se envolver em assuntos que não saiba. Precisa ser ensinador e não repetidor. Se a direção das escolas e os professores de nossos filhos não se atentarem para esse novo paradigma que se apresenta como urgente, como nosso futuro pode ser garantido?